sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um pouco da Ciência do Folclore

Temos aqui algumas considerações sobre o Folclore e o Festival de Folclore de Olímpia/SP



Este festival aborda muito bem as questões relacionas à educação ao turismo e à cultura tradicional e suas projeções, no contexto da homogeneidade cultural. Aponta a necessidade de se estabelecer uma promoção sócio-cultural, objetivando garantir a reprodução dos fatos folclóricos pela comunidade de Olímpia, dando continuidade de forma consistente a tudo que foi idealizado pelo mestre José San’tana, de saudosa memória, e projetar o Folclore ou Cultura Popular Brasileira de forma consciente e responsável numa sociedade emergente, conservando toda sua simbologia para uma saudável convivência num mundo em perspectiva, em busca de significados

Discutir todas essas relações é ressaltar a necessidade que o denominado patrimônio imaterial adquire no âmbito da gestão pública. Assistimos, nas últimas duas décadas do século passado, um aumento das preocupações em torno da problemática da preservação com sustentabilidade da Cultura Popular Brasileira, e isto é muito importante, animador para nós pesquisadores e defensores dessa rica diversidade cultural não existente em nenhum país. Por esta razão faz-se necessárias realizações como esta, com um pé na tradição e outro na modernidade sem ser diferente, mas, fazendo a diferença como esta bela, simpática, e inteligente cidade vem fazendo ao longo dos 45 anos de realização desse importantíssimo festival, contagiante e emocionante.

Dessa forma vocês estão contribuindo para o revigoramento das expressões culturais do nosso país, fortalecendo o caráter identitário, com a promoção e divulgação das mais belas expressões culturais Brasileiras.

Não podemos imaginar que um festival com quarenta e cinco anos de existência seja repetitivo. Os tempos mudam e as pessoas incorporam novos valores, novas cisões de mundo. É o dinamismo cultural. O homem ao contrário das formigas tem a capacidade de questionar seus próprios hábitos e modificá-los. Você me pergunta quais os pontos falhos e em que precisa melhorar. Uma ótima pergunta. Nas localidades “vocacionadas” para o turismo, como é o caso de Olímpia, é comum que grupos empresariais e instituições públicas apareçam na idealização de eventos turísticos. Espetáculos, shows de música popular, grupos folclóricos, banda e cantores nativos conferem visibilidade aos produtos culturais e aumentam a capacidade de atratividade. Tudo bem e normal, agora: muito cuidado com o mercado publicitário, pois a mídia, com raras exceções, é simplista, simplificadora na informação, cria simulacros que tendem a transformar em produtos que destroem a importância cultural do evento e da comunidade. Quando aceitamos as tendências midiáticas, limitamos a capacidade problematizadora e educadora da informação, diminuindo assim, a percepção da oferta informativa por parte dos visitantes ou mesmo dos habitantes da comunidade.

A cultura tradicional é o folclore, que nos dias atuais evolui com as mudanças na sociedade de consumo. Dessa forma, colocar o novo e o tradicional num mesmo espaço, dando-lhe a mesma importância e o devido respeito é o ideal, pois, eleva a auto-estima do homem do povo que na maioria das vezes não acredita mais e nem propaga sua vivência cultural, apenas assiste a tudo e à margem do processo, longe da mídia, cansado e desiludido, tende a desfalecer, o que leva ao desaparecimento de muitas das manifestações importantíssimas da tradição popular folclórica. Aqui no Rio Grande do Norte sou testemunho de fatos dessa natureza. O Brasil precisa mirar-se no exemplo de Olímpia, caso deseje preservar sua identidade e não ficar rendido no altar da globalização. É preciso saber avaliar a importância da tradição para o moderno, porque sem a tradição somos homens de mãos vazias. Esta é questão.

Primeiro devo dizer que o folclore é uma ciência, com seu objeto de estudo: “O fato folclórico”, apoiado na oralidade, tradicionalidade, dinamicidade e funcionalidade, são os pilares de sustentação desta moderna ciência. Sem esquecer que a oralidade, nos dias atuais, tende a aparecer como sentido simbólico.

Já os grupos de projeções, representados pelos autos e danças tradicionais folclóricas, tem integrantes que, em sua maioria, não são portadores das tradições apresentadas, se organizam formalmente e aprendem as danças através do estudo regular ou exclusivamente bibliográfico e de modo não espontâneo.

Racionalmente falando, o moderno e o tradicional podem e devem conviver harmoniosamente. A modernidade não vive sem a tradicionalidade porque, a modernidade é uma espécie de espelho cujos reflexos reproduzem as imagens do todo inacabado. Sempre vai existir um passado com reflexos no presente, com um futuro em perspectiva. A ciência do folclore e sua dinâmica é uma necessidade para compreender as interações presentes com este universo complexo e suas relações social e cultural num mundo em transformação para compreender o significado de sua presença em algum lugar e algum tempo.


Severino Vicente

Historiador e Folclorista.

Presidente da Comissão Norte-rio-grandense de Folclore

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